O mundo não vai acabar, o PIB não terá o número anunciado em janeiro você vai continuar lendo previsões para o futuro
Por Jack London*
Não há dúvida nenhuma, 2013 já está envelhecendo. Com janeiro no meio, você deve ter lido mais de 300 previsões para o ano e, segundos depois da leitura, que se embaralha a cada boa ou má notícia, já não sabe mais em que oráculo se basear. Levando em conta o fato de que é muito difícil para qualquer empreendedor realizar mudanças em sua empresa para 2013 já em pleno 2013 (mudar de rumos exige planejamento e tempo para se adequar a novas tendências), vamos dar início aqui a uma nova prática: anunciar em janeiro de 2013 as previsões infalíveis e as tendências de mercado para 2014. Assim estaremos à frente do tempo e você terá 12 meses para fazer seu negócio ou sua vida tomarem novos rumos com calma e precisão.
1. Em dezembro de 2013, você começará a leitura de mais 300 previsões para 2014. E ficará como uma barata tonta, à procura de algo que lhe pareça a sua verdade, e repetirá este comportamento sucessivamente, até o fim do mundo.
2. E por falar nisso, o mundo NÃO vai acabar em 2014. Na última década tivemos várias previsões acabistas (sim, a palavra não existe no dicionário, acabou de ser inventada), cada uma delas baseada em calendários ancestrais, Nostradamus, os Incas, os asteroides que iriam colidir com a Terra. Posso lhe garantir logo duas coisas, amigo leitor: que a Terra um dia vai acabar e que esse dia não será em 2014.
3. Em 1 de janeiro de 2014, os veículos de comunicação estarão outra vez reverberando os ecos das festas de passagem de ano, e Copacabana e avenida Paulista continuarão disputando a gincana “Eu chuto mais que você”. Neste ano, a Paulista anunciou 2 milhões de pessoas na avenida, e Copacabana logo retrucou com 2,3 milhões de praianos. Chega a ser patético o nosso desprezo pela realidade quando falamos de números, sempre redondos, para qualquer coisa, sejam dicas de enriquecimento rápido, fórmulas para gerir empresas ou listas de melhores do ano. Se o número é uma estimativa, por que não dar um toque de realidade e seriedade anunciando 1.748.300 foliões tanto no Rio quanto em São Paulo?
Minha previsão, no entanto, é que haverá, oficialmente, 2,2 milhões de pessoas na Paulista e 2,5 milhões em Copacabana no próximo réveillon, esta estranha palavra francesa que se abrasileirou. Assim como todas as listas de “melhores”, “dicas” ou “tendências” manterão o 10 e seus múltiplos como formato. Nada contra a sensação de certeza e totalidade que esses números trazem para quem lê. É uma questão de justiça e equidade. Coitados do 11, do 17 e do 39.
4. O livro de economia & gestão mais lido no Brasil em 2012 foi a biografia de Eike Batista, o flamboyante líder do grupo X de empresas. Em 2010, Abilio Diniz (ex-Pão de Açúcar) ocupou o mesmo trono. Enquanto gastam seu precioso tempo escrevendo suas biografias, essas estrelas de nossa economia deixam de dar atenção a suas empresas, que ou são perdidas de vez (caso Abilio) ou batem o recorde mundial de desvalorização (caso Eike). Eike perdeu em 2012 mais de US$ 10 bilhões, honrando as cores nacionais com essa vitória inequívoca. O segundo colocado nessa lista, a dos perdedores de 2012, foi o conhecido Mark Zuckerberg, um rapazola americano, que não foi capaz de perder mais de US$ 5 bilhões em um ano.
Previsão para 2014: o livro de economia mais lido pelos brasileiros em 2013 será escrito pelo próximo empresário brasileiro que perderá o rumo de seus negócios enquanto trata de nos ensinar como chegar ao topo. Você aí que está no início dessa corrida, não esqueça: nunca escreva sua biografia enquanto estiver no topo. Dá azar ou incita o olho grande, a inveja, o mau-olhado. Guarde seus ensinamentos para depois da aposentadoria. É mais seguro e o risco é zero.
Há também outra constatação da qual não posso fugir: será que estamos lendo mal, buscando sem qualquer juízo crítico uma chave para enricar por imitação?
5. Em janeiro deste ano, autoridades econômicas e entidades empresariais vão anunciar suas previsões para o crescimento do Brasil em 2013, o famoso PIB.
Minha previsão para o PIB deste ano e o de 2014: ele pode ser qualquer número inteiro ou fração contido na escala matemática, menos o anunciado em janeiro. Foi assim em 2009, quando tivemos o Pibão, e foi assim em 2011 e 2012, quando os números reais estiveram muito abaixo do esperado, criando a expressão Pibinho. Mais uma vez pergunto: por que somos tão infelizes em nossos palpites quando a matemática se faz presente? Será que confundimos previsão com “dizer o número que sonhamos”, numa tradução torta, mas exata e adequada para a expressão inglesa “wishful thinking”?
6. Dois dias depois do Natal de 2012, encontrei diversas notícias que refletiam opiniões de lojistas dizendo que as vendas de Natal tinham sido muito boas, com uma previsão de 6% de crescimento. Na primeira semana de janeiro de 2013, encontro vários dirigentes lojistas e economistas afirmando que o crescimento de vendas no Natal (realmente de 6%) foi morno ou insuficiente. Nesse caso, acertamos no número, mas erramos na conclusão. Passados dez dias e possivelmente também o porre de euforia natalino, o que era muito bom virou morno. Esse fato vem também se repetindo há muitos anos e vai se repetir em 2013, 2014...
7. Ano Novo e Ano Velho são duas ficções da existência, criadas recentemente (nos últimos 200 anos) para estabelecer uma espécie de rito de passagem: num passe de mágica, tudo o que vivemos ficou velho e, por convenção, daquele segundo em diante tudo será novo. Durante a maior parte da história humana comemorávamos as estações do ano, hábito que ainda se mantém vivo em várias religiões. Essas comemorações não tinham o sentido de “envelhecer” a vida que passou, mas lembrar a todos sobre os tempos de plantar, aguardar, colher e recolher-se, como num eterno retorno da vida, um reiniciar dos ciclos, todos eles novos e velhos, todos eles atados entre si. É tal a velocidade das chamadas “mudanças” que muito em breve estaremos reduzindo o ano para seis meses, para que duas vezes por “ano” sejamos renovados por completo. Mas a vida real não é assim: uma tendência pode vigorar de agosto a março de outro ano e uma dica de negócios pode durar uma semana, um mês ou um século. Tenho uma vasta coleção de livros sobre administração e gestão publicados nos últimos dez anos. Depois de um curto período, os conselhos e os formatos de gestão ficam ridículos, muitos deles perfeitamente adequados para render fortes gargalhadas.
8. A grande sacada é perceber que nada é inteiramente “novo” e nada é absolutamente descartável. Todos os dias de nossa vida somos tentados a recolher o lixo da existência e enterrá-lo num buraco fundo. O lixo do trabalho inacabado, dos projetos não realizados, das empresas que não vingaram, das novidades tecnológicas que você descarta depois de alguns meses. Viver e renovar-se permanentemente, transformando experiências e escombros pessoais em gestos positivos deve ser nossa agenda diária. Experimente, em 2013 e em 2014, reciclar sua existência sem medo, sem jogar fora o passado. Freud dizia que o passado sempre volta, que ele é o “eterno reprimido que retorna”.
9. Em 2014 estará na moda refletir, aumentar seu poder de crítica e conhecimento, de identificar pensamentos e caminhos inúteis. Não basta ler sem refletir sobre o que você lê, não basta aprender sem espírito crítico, não basta decorar breviários que muito em breve serão apenas papel para embrulhar peixes na feira.
10. O tempo que nos escorre por entre os dedos costuma não dar avisos. Num passe de mágica ele transforma um adolescente inflamado num “envelhescente” ranheta. Mas nenhum desses personagens se estabelece de todo: somos sempre a soma dos dois num enfrentamento diário num só corpo.
Última previsão: em 2014 você será convidado a viver, como está sendo em 2013. Não espere, faça-o já: não se esconda por achar que sabe pouco ou pode pouco. Não é assim que são formadas as grandes pessoas. Elas são sempre as que mais arriscam, mais tentam, errando ou acertando. Espero por você nessa estrada.
Até lá e um excelente 2014, com saúde, lucidez, energia e senso crítico. Esses votos valem também para 2013.
* Jack London é fundador da Booknet, primeiro negócio virtual que ganhou fama no Brasil, e da Tix, empresa de comercialização de ingressos online. Atualmente é professor, consultor e empreendedor.
Para falar com Jack London e sugerir temas para suas colunas, mande e-mail para jlondon@ism.com.br e coloque Coluna PEGN no campo assunto.
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